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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O DÍZIMO E OS PAIS DA IGREJA | Rev. Glauco Barreira M. Filho | Ref. Dia: 14.12.2016

A ignorância acerca dos Pais da Igreja é enorme entre católicos e evangélicos. Os católicos não atentam para o fato de que muitas expressões hoje usadas por eles tinham outro sentido na época dos Pais. Lutero fez questão de mostrar essa mudança de significações em seu tempo. Os evangélicos, por sua vez, não lêem os escritos dos Pais na íntegra e ficam confabulando com citações de trechos que encontram em livros e na internet. 
Há, por exemplo, evolucionistas teístas e defensores da criação em longas fases que citam a interpretação simbólica do início do Gênesis, defendida por alguns Pais da Igreja, para questionar a ocorrência da criação em seis dias. O que eles não percebem é que os Pais (Orígenes, Hilário, Agostinho e Jerônimo) acreditavam que Deus tinha criado tudo de uma vez[1] (não em milhões de anos) – Salmos 33: 6-9; Salmos 148: 1-6; Gênesis 2:4 - e a representação em dias era vista como um artifício literário para apresentar uma divisão dos seres criados em graus de complexidade. A eles, parecia desnecessário que Deus precisasse de qualquer tempo para criar.
Agora, a moda é citar os Pais para dizer que eles não criam no dízimo. A verdade, porém, é que eles acreditavam que as pessoas do Velho Pacto, por não terem um novo coração em Cristo, precisavam ter o dízimo como uma OBRIGAÇÃO. Na Era da Graça, por outro lado, somos livres da OBRIGAÇÃO do dízimo, porque, agora, com um coração regenerado, DAMOS VOLUNTARIAMENTE MUITO MAIS DO QUE O DÍZIMO EM GRATIDÃO.
Na visão dos Pais, nós saímos da OBRIGAÇÃO do dízimo porque fomos libertados da avareza que tornava o dízimo uma obrigação. Agora damos muito mais do que o dízimo, mas por amor. O modelo de Jesus para a igreja não é o dizimista, mas a viúva pobre que deu, sem que fosse obrigada, muito mais do que o dízimo. Na verdade, deu tudo o que tinha (Lucas 21: 1-4). Para aqueles que falam que dízimos e ofertas eram apenas da produção de gado e da terra, eis o relato de pessoas dando moedas nos cofres do templo. O dízimo e as ofertas não foram apenas para agropecuaristas, mas se adaptaram a moeda, quando ela ganhou maior expressão no mercado.
Conforme Irineu, Pai da igreja do século II, o verdadeiro cristão dá (voluntariamente, não por obrigação institucional) muito mais que o dízimo para a obra de Deus:
“Os judeus dedicavam os dízimos de seus produtos a Ele (Deus), mas os que foram libertados destinavam todos os seus bens à obra do Senhor. O dizimar é lei judaica que não se requer dos cristãos, porque os cristãos receberam a liberdade e devem dar sem constrangimento.” (Contra Heresias – 180 d.C. p. 18,2). 
Os cristãos seguem o exemplo de Jacó, que sem lei que lhe impusesse, deu o dízimo em gratidão pela provisão divina (Gênesis 28: 20-22). Notemos que Jacó não deu só o dízimo, mas disse que “certamente” daria o dízimo (v. 22). Isso significa que, pelo menos, o dízimo ele daria, ou, ainda, que o dízimo daria com certeza. O dízimo para o cristão, portanto, não é uma obrigação, mas um mínimo que serve de advertência contra a avareza. Os fariseus davam o dízimo (Mateus 23: 23), mas Jesus disse:
“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5: 20).
A igreja primitiva entendeu isso claramente. Irineu disse: “A lei não exigirá os dizimos de quem consagrou TODOS seus bens a Deus e deixou pai, mãe e toda sua família para seguir ao Verbo de Deus”.
Charles H. Spurgeon disse em seu sermão “Deus Ama o Que Dá com Alegria” (pregado na noite de quinta-feira, 27 de agosto de 1868): 
Muito foi dito sobre dar um décimo – dízimo – do ingresso ao Senhor. Sou do parecer que se trata de um dever cristão que ninguém deveria questionar nem por um instante. Se se tratava de um dever sob a lei judaica, é agora um dever muito maior sob a dispensação cristã. Mas é um grande erro supor que o judeu dava o dízimo somente. O judeu dava muito, muito, muito mais que isso. O dízimo era o pagamento que devia realizar, mas depois disso vinham todas as ofertas voluntárias, todas as várias doações em diversas épocas do ano, de tal forma que, talvez, ele dava um terço, ou certamente algo muito mais aproximado a isso, do que o dízimo. E é estranho que em nosso tempo, os seguidores de ídolos, tais como os hindus, também deem essa proporção de seus ingressos, envergonhando assim totalmente a falta de liberalidade de muitos que professam serem seguidores de Jesus Cristo... Vocês não estão sob a lei, mas sob a graça; portanto, não devem dar nem fazer coisa alguma para Deus como por compulsão, como se escutassem o velho chicote mosaico estalando perto de seus ouvidos. Vocês não devem se encurvar diante do Senhor como o filho de Agar, a escrava, como recém-chegados da Arábia e dos tremores do Sinai; vocês têm de avançar alegremente como alguém que veio do Monte Sião, como o filho da promessa: como Isaque, cujo nome significa riso; alegrando-se porque vocês são capacitados, favorecidos e privilegiados para fazer tudo por Quem os amou até a morte. Aquele que dá com alegria é um que dá de todo coração, e há uma maneira de dar de todo o coração, especialmente quando a oferta é a de seu tempo ou de seu serviço.”[2]
É importante notar que a igreja, na época dos Pais Apologistas, tinha duas contribuições. Uma para o trabalho regular da igreja e outra para os necessitados (postas no dia da ceia do Senhor debaixo da Mesa). Tertuliano (século II) estava falando da contribuição para os necessitados, quando disse: “Temos uma espécie de caixa, seus rendimentos não provem de quotas fixas, como se com isso se pusesse um preço à religião... senão em alimentar ou enterrar aos pobres, ou ajudar aos meninos e meninas que perderam a seus pais e seus bens, ou aos anciãos confinados em suas casas, aos náufragos, ou aos que trabalham nas minas, ou estão desterrados nas ilhas ou prisões ou nos cárceres”.
Justino (século II) também está falando da oferta para os necessitados, quando diz: “Os que possuem alguma coisa e queiram, cada um conforme sua livre vontade, dão o que bem lhes parece, e o que foi recolhido se entrega ao presidente. Ele o distribui a órfãos e viúvas, aos que por necessidade ou outra causa estão necessitados, aos que estão nas prisões, aos forasteiros de passagem, numa palavra, ele se torna o provedor de todos os que se encontram em necessidade.”
Notemos que não se fala nesses textos sobre manutenção de missionários ou pastores, pois não era a contribuição para a obra, mas para os necessitados. Tertuliano e Justino estão falando do serviço das mesas, do diaconato.
Em relação à manutenção da obra, na parte dos deveres para com os ministros, o Didaquê (80- 140 A. D.) fala de dar SEGUNDO A LEI (uma referência ao dízimo como limite mínimo), dando oportunidade a que, se for oportuno a alguém, complete o valor dado em dinheiro com roupas e bens: 
“E Toma AS PRIMÍCIAS do dinheiro, das vestes e de todas as posses, segundo lhe parecer oportuno, e os dê conforme a lei.” (Didaquê, 13.7).
É claro que hoje em dia há problemas relativos à entrega do dízimo, dos quais eu destaco dois: o problema da motivação e o problema da igreja que recebe o dízimo. A teologia da prosperidade faz interpretação incorreta sobre o motivo para dar o dízimo e, por outro lado, o dízimo deve ser dado a uma igreja de governo congregacional e que defenda a sã doutrina. Mas isso é para outro artigo!

Aconselho aos que querem saber mais sobre o assunto para ouvirem um sermão explicativo no link seguinte: https://www.youtube.com/watch?v=DG06hJzX7bw
Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho

[1] John W. Klotz. Studies in Creation. St. Louis: Concordia Publishing House, 1985, p. 68.
[2] https://www.projetospurgeon.com.br/2013/05/deus-ama-o-que-da-com-alegria/

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Pensando biblicamente sobre o aborto | Randy Alcon | Ref. Dia: 08.12.2016


Alguns defensores do aborto afirmam que suas crenças têm a Bíblia como base. Eles afirmam que a Bíblia não proíbe o aborto. Eles estão errados. A Bíblia, de fato, proíbe enfaticamente a morte de pessoas inocentes (Êxodo 20:13) e considera claramente o nascituro como sendo um ser humano digno de proteção (21:22-25).

Jó descreveu graficamente a forma como Deus o criou antes de ele nascer (Jó 10:8-12). O que estava no ventre de sua mãe não era algo que poderia tornar-se Jó, mas alguém que era Jó—o mesmo homem, só que mais jovem. Para o profeta Isaías, Deus diz: “Assim diz o SENHOR, que te criou, e te formou desde o ventre, e que te ajuda” (Isaías 44:2). O que cada pessoa é, e não apenas o que ela pode se tornar, esteve presente no ventre de sua mãe.

Salmo 139:13-16 pinta um retrato vívido do envolvimento íntimo de Deus com uma pessoa antes de seu nascimento. Deus criou o “interior” de Davi, não no nascimento, mas antes do nascimento. Davi diz ao seu Criador, “tu me teceste no ventre de minha mãe” (versículo 13). Cada pessoa, independentemente de sua filiação ou deficiência, não foi fabricada em uma linha de montagem cósmica, mas criada pessoalmente por Deus. Todos os dias de nossas vidas são planejados por Deus antes de virmos a ser (versículo 16).

Meredith Kline observa: “O que há de mais importante a respeito da legislação do aborto na lei bíblica é que não há legislação nenhuma. Era tão inconcebível que uma mulher israelita pudesse desejar um aborto que não havia necessidade de mencionar esse crime no código penal”. Tudo o que se precisava para proibir o aborto era o mandamento “Não matarás” (Êxodo 20:13). Todo israelita sabia que o nascituro era uma criança. Assim como nós sabemos, se formos honestos. Nós todos sabemos que uma mulher grávida está “carregando uma criança”.

Toda criança no ventre é obra de Deus e faz parte do seu plano. Cristo ama essa criança e provou isso, tornando-se semelhante a ela - ele mesmo passou nove meses no ventre de sua mãe.

Assim como os termos criança e adolescente, embrião e feto não se referem a seres não humanos, mas a seres humanos em diferentes estágios de desenvolvimento. É cientificamente incorreto dizer que um embrião humano ou um feto não é um ser simplesmente porque ele está em uma fase mais prematura do que uma criança. Isso é a mesma coisa que dizer que uma criança não é um ser humano, porque ele ainda não é um adolescente. Será que alguém se torna mais humano quando cresce? Se assim for, então os adultos são mais humanos do que as crianças, e os jogadores de futebol são mais humanos do que os jóqueis. Algo que não é humano não se torna humano ou mais humano ao ficar mais velho ou maior; tudo o que for humano é humano desde o início, ou não é humano de jeito nenhum. O direito à vida não aumenta com a idade e o tamanho; caso contrário, as crianças e os adolescentes teriam menos direito de viver do que os adultos.

Uma vez que reconhecemos que os nascituros são seres humanos, a questão sobre o seu direito de viver deve ser resolvida, independente da forma como foram concebidos. É desigual a comparação entre os direitos das mães e os direitos dos bebês. O que está em jogo na grande maioria dos abortos é o estilo de vida da mãe, em oposição à vida do bebê. Nesses casos, é justo que a sociedade espere que um adulto viva temporariamente com um inconveniente, se a única alternativa é matar uma criança.

Os defensores do aborto desviam a atenção da grande maioria dos abortos (99%) ao colocarem o foco sobre o estupro e o incesto por causa do fator simpatia. Eles dão a falsa impressão de que a gravidez é comum nesses casos. No entanto, nenhuma criança é um “produto desprezível de um estupro ou incesto”, mas sim uma criação de Deus única e maravilhosa feita à sua imagem. Para uma mulher vitimizada, pode ser muito mais benéfico ter e carregar uma criança do que saber que uma criança morreu em uma tentativa de reduzir o seu trauma.

Quando Alan Keyes se dirigiu aos alunos do ensino médio em uma escola em Detroit, uma menina de treze anos de idade perguntou se ele faria uma exceção para o estupro em sua posição pró-vida. Ele respondeu com esta pergunta: “Se o seu pai estuprasse alguém, e nós o condenássemos por esse estupro, vocês acham que seria certo se, em seguida, nós disséssemos: ‘OK, pelo fato de seu pai ter sido culpado do estupro, nós mataremos você?” A classe respondeu: “Não”. Quando lhe perguntaram por que uma garota teria que passar por uma gravidez, quando algo tão horrível aconteceu com ela, com sabedoria, ele fez a seguinte analogia:

Vamos supor que os Estados Unidos se envolvessem em uma guerra quando você tivesse 19 anos. E, sabemos que, em guerras no passado, tivemos um recrutamento e as pessoas de sua idade eram recrutadas e enviadas para a guerra, certo? Então você teria que ser enviada. Você teria que viver em um campo de batalha. Você teria que arriscar a sua vida. E muitas pessoas, de fato, arriscam suas vidas, vivem em dificuldades todos os dias e, no final, elas morrem. Por quê? Elas estavam defendendo o quê? Nosso país e a sua liberdade. Elas tiveram que passar por dificuldades pela causa da liberdade, não é mesmo.

O princípio da liberdade é que nossos direitos vêm de Deus. Você acha que é errado pedir que as pessoas façam sacrifícios para manter o nosso respeito por esse princípio? ... Só que eu não acredito que seja certo pegar essa dor e torná-la pior... você sabe o que eu acrescento se eu permitir que se faça um aborto? Estou acrescentando o peso daquele aborto. E, em algum momento, a verdade de Deus que está escrita em seu coração retorna a você. E você é ferido por essa verdade.

Portanto, eu não acho justo, nem para a criança e nem para a mulher, deixar que esta tragédia tire a vida de ambos, a vida física da criança e a vida moral e espiritual da mãe. E nesta sociedade, eu acho que fazemos um mal terrível a ambos, porque não temos a coragem de nos posicionarmos a favor do que é verdadeiro. (ProLife Info Digest, 2 de fevereiro de 2000)

Em seu livro, Victims and Victors [Vítimas e Vencedores], David Reardon e associados trazem a experiência de 192 mulheres que ficaram grávidas como resultado de estupro ou incesto. Acontece que quando as vítimas da violência falam por si, a opinião delas sobre o aborto é quase unânime e exatamente o oposto do que a maioria poderia prever: quase todas as mulheres entrevistadas disseram que se arrependeram de abortar seus bebês concebidos através de estupro ou incesto. Dentre as mulheres que deram uma opinião, mais de 90 % disseram que desencorajariam outras vítimas de violência sexual a fazerem abortos. Nenhuma das que deram à luz uma criança expressou arrependimento.

A imposição de pena de morte ao filho inocente de um agressor sexual não traz nenhuma punição ao estuprador e nenhum benefício para a mulher. Criar uma segunda vítima nunca desfaz o dano causado à primeira. O aborto não traz a cura para uma vítima de estupro.

Os discípulos de Cristo não conseguiram entender como as crianças eram valiosas para ele, então eles repreendiam aquelas pessoas que tentavam trazê-las para perto dele (Lucas 18:15-17). Porém Jesus disse: “Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus”. Ele considerou as crianças como parte do seu reino, e não uma distração.

A visão bíblica sobre os filhos é que eles são uma bênção e uma dádiva do Senhor (Salmo 127:3-5). No entanto, a cultura ocidental trata as crianças como obrigações. Temos de aprender a ver todas as crianças como Deus as vê, e devemos agir em relação a elas conforme ele nos manda agir. Devemos defender a causa do fraco e do órfão; manter os direitos dos pobres e dos oprimidos, salvar os fracos e os necessitados e libertá-los dos ímpios (Salmo 82:3-4).
Cristo afirmou que tudo o que fazemos, ou deixamos de fazer, aos filhos de Deus que são mais fracos e vulneráveis, nós fazemos, ou deixamos de fazer, a ele. No julgamento, “O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mateus 25:40).

Tradução: Editora Fiel
Fonte:<http://pt.gospeltranslations.org/wiki/Pensando_Biblicamente_sobre_o_Aborto>

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Por que não ouvir música mundana | Pr. Glauco Barreira M. Filho | Ref. Dia: 07.12.2016


POR QUE NÃO OUVIR MÚSICA MUNDANA E USAR OUTRAS COISAS FEITAS NO MUNDO COMO: LIVROS, PRATOS, ETC?

Os livros seculares são lidos para formação ou exame para refutação. Deve de todo modo visar à glória de Deus: refutar o erro ou obter melhor os conhecimentos para exercer bem uma profissão para a glória de Deus. O grande avivalista congregacional Jonathan Edwards, inclusive, disciplinou jovens de sua igreja por lerem literatura improdutiva, inapropriada.

A música foi criada para louvar a Deus, ela traz um espírito, uma inspiração, alimenta paixões. Eu não acredito que um homem como Paulo, que considerou tudo como esterco para ganhar a Cristo, que considerou como perda todas as coisas por amor ao Senhor, que se fazia de tudo e de todos para ganhar alguns encontrava lugar para se deleitar em música mundana.

Quando leio um livro profissional ou filosófico fico sempre pensando em como glorificar a Deus com aquilo que estou aprendendo, seja para refutar ou pôr a serviço de Deus. Assim, escrevo livros de Direito para defender a vida, a família, etc. Não consigo, porém, deleitar-me na audiência de música mundana[1] que alimenta movimentos corporais, pensamentos eróticos e frivolidades. Nesse caso, o que pode glorificar a Deus é protestar contra ela.

Música é diferente de carro, prato, copo, etc. Música é devoção. No céu, haverá uma cidade, no milênio haverá cavalos, plantações, etc, mas a terra se encherá da glória de Deus e nós o louvaremos de dia e de noite. Haverá muitas coisas humanas, mas não a música que não glorifique a Deus.

Até um filme pode ser examinado. Você aprende o que tem de bom e rejeita o ruim, com exame racional. O normal não é você assistir o mesmo filme todos os dias. A música envolve, faz o prazer de ouvi-la (muitas vezes ligado aos baixos instintos) tirar o discernimento. Ou talvez, a própria pessoa veja o erro, mas não consiga deixar de ouvir pelo prazer que a música lhe traz. É costume ouvir a mesma música com frequência (torna-se uma devoção). Ela fica na nossa mente, mesmo quando não estamos ouvindo. Desse modo, ela seduz, faz trair os valores morais e espirituais. Quem é honesto (e não está seduzido absolutamente pela música mundana) reconhecerá isto.

A música mundana pode ser analisada friamente por um sociólogo ou por um estudante da música, por exemplo, mas, nessa hora, ele não a tem como o seu entretenimento.

Uma coisa é ouvir uma música mundana pela primeira vez para saber o que ela diz. Outra coisa é fazer dela o seu deleite e costume. É impossível que a ideologia repetida na mente não entre nas inclinações. Aliás, era essa a técnica usada na lavagem cerebral comunista.

A Bíblia mostra que Jesus ia a casamentos (onde buscava oportunidade também de mostrar sua glória), comia em banquetes de pecadores (onde pudesse também evangelizá-los), trabalhava, dormia... Mas não diz que cantou música mundana. Ele, que é nosso exemplo, cantou um hino (Salmos do Hallel - Salmo 113-118) conforme Mateus 26: 30 e Marcos 14: 26. É esse o único relato que informa ter Jesus cantado. Não é ele o nosso modelo?

Sobre a música profana, Cipriano, pai da Igreja do século III, disse: “O diabo... experimenta os ouvidos com música agradável para abrandar a integridade cristã com o encanto e a suavidade das vozes”
Clemente de Alexandria, pai da Igreja Cristã do século II, disse:
"A música demasiado artificial, que destrói as almas e lhe incute muitos sentimentos diversos, quer seja lacrimoso, quer impudico e voluptuoso, quer provocador de um furor báquico ou de insanidade, deve ser banida” (Stromata VI, 90)".
Basílio de Cesareia (século IV), disse:
“Há lugares onde mil espetáculos de charlatães alimentam vossos olhos desde o amanhecer até o anoitecer. E, no entanto, as pessoas não se sentem enfastiadas de escutar esses cantos dissolutos e capazes de enfraquecer, próprios para fazer nascer nas almas uma grande inclinação ao prazer... em todo o caso, um teatro onde florescem estes espetáculos indecentes não é outra coisa que uma comum e pública escola de falta de vergonha, e o acompanhamento harmonioso das flautas e dos cantos das prostitutas, introduzindo-se nas almas dos ouvintes, não os incitam mais do que a esquecer a decência e a imitar na prática aquilo mesmo que os tocadores de flauta e de cítara os fizeram escutar” (In Hexaemeron, Homilia, 4, 1).
Acerca da música cristã, Agostinho (século IV) disse em suas Confissões:
“Quanto chorei ouvindo vossos hinos, vossos cânticos, os acentos suaves que ecoavam em vossa Igreja! Que emoção me causavam! Fluíam em meu ouvido, destilando a verdade em meu coração. Um grande elã de piedade me elevava, e as lágrimas corriam-me pela face, mas me faziam bem".
Em um tratado sobre a música nos advertiu para que ela não tomasse o lugar de Deus,  pois, antes, deve servir a Deus:
“[...] não é preciso então amar a música como se, exaurindo-se no regozijo, se pudesse substituir Deus, encontrar nela, para sempre, a Felicidade”
"Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.” (1 Coríntios 10:31)
 "Ou ainda não entendeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não pertenceis a vós mesmos? Pois fostes comprados por alto preço; portanto, glorificai a Deus no vosso próprio corpo" (I Cor. 6: 19-20).

Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho



[1] Exceto aquela inteiramente artística, de inspiração matemática, como a música clássica, a qual já nasceu da música litúrgica. Mesmo assim, tem muita música clássica sacra.