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terça-feira, 1 de novembro de 2016

Quem São os Anabatistas? | Pr. Glauco Barreira M. Filho | Ref. Dia: 01.11.2016

“O ANTIGO QUE SE FAZ NOVO
QUEM SÃO OS ANABATISTAS?
Por: Rev. Glauco Barreira M. Filho


       Nos séculos II e III, após grandes perseguições sofridas pelos cristãos, muitos que, não apenas haviam negado a fé, mas delatado os irmãos e servido aos perseguidores, desejaram voltar para a igreja. As igrejas acomodadas pela tranqüilidade gozada após a perseguição, tendo perdido muito do seu zelo antigo, receberam esses apóstatas sem maiores exigências. À época, algumas comunidades cristãs, principalmente da África, afirmaram que o comportamento dos que haviam traído os irmãos evidenciava que eles não eram discípulos verdadeiros. Como a fé e a conversão genuína eram condições para o batismo nas águas, essas comunidades consideravam o anterior batismo dos traidores da fé como inválido. Com isso, as comunidades zelosas exigiam um novo batismo dessas pessoas, após demonstrado genuíno arrependimento. Em razão dessa exigência, foram chamados de “anabatistas” (rebatizadores). Para os anabatistas, todavia, não era o caso de batizar novamente tais pessoas, mas de lhes dar um genuíno batismo, caso, de fato, estivessem arrependidas e convertidas.


         Naquelas circunstâncias, grande parte da cristandade considerou o “anabatismo” como um movimento separatista. Convém, entretanto, lembrar que os grandes mártires desse período estavam entre eles (como foi o caso histórico das mártires Perpétua e Felicidade). Irineu, famoso pai da igreja, embora não estivesse oficialmente em suas fileiras, defendeu os anabatistas, reconhecendo-lhes o zelo pela Palavra. Já Tertuliano, o maior mestre da igreja de então, ingressou na comunidade dos anabatistas e se tornou seu grande apologista.
       Para os anabatistas, eles não eram uma ruptura, mas, sim, a continuidade linear e histórica da igreja apostólica. Desde então, eles mantêm sua continuidade no tempo em sucessão ininterrupta. Os anabatistas foram chamados de donatistas à época em que Constantino começou o processo de institucionalização romana da cristandade. Foram eles que resistiram à aliança entre a igreja e o império, sofrendo duramente por isso.

     Na Idade Média, os anabatistas foram conhecidos principalmente como paulicianos e valdenses. Hoje em dia, muitos historiadores compreendem que os valdenses não podiam ser um grupo religioso fundado por Pedro Valdo, pois o nome “valdense” aparece em documentos anteriores ao nascimento de Pedro Valdo. Na verdade, Pedro deve ter sido chamado de “Valdo” porque era valdense e não o contrário. O termo “valdense” vem de duas palavras que foram unidas em contração: uma significa “vale” e a outra significa “denso”. A expressão “valdense” referia-se aos lugares onde eles se escondiam dos perseguidores.




        Com a perseguição, os valdenses ficaram sem seus líderes, pois eles foram martirizados. Para não deixarem de ouvir a palavra de algum modo, compareciam às missas católicas a fim de ouvir a leitura bíblica feita pelo padre. A frequência ao culto católico fez com que abandonassem grande parte de suas características (entre elas, o batismo adulto), mas alguns deles, com outros nomes (arnaldistas, bogomilos), mantiveram acesa a chama da verdade. O livro “O Espelho dos Mártires”, escrito durante o período da Reforma por um anabatista, salienta a continuidade da verdade em meio a muitas provações e perseguições.
           Durante a Reforma, os anabatistas apareceram em diversos lugares. Enquanto Lutero e Calvino faziam a Reforma em lugares específicos, os anabatistas apareciam em grande número em vários lugares, o que levou os historiadores mais atentos a reconhecer que eles não eram originários da Reforma, embora tivessem ganhado impulso com ela. A Reforma produziu novos líderes para os anabatistas. Alunos do reformador suíço Zuínglio romperam com ele e aceitaram as convicções anabatistas, tornando-s seus grandes líderes no século XVI. O mesmo aconteceu em outros lugares.
         É importante aqui salientar que não se deve confundir os anabatistas com os “espiritualistas exaltados” que surgiram durante a Reforma. Esses últimos são fruto da crise européia do século XVI. Muitos reformadores quiseram associar os anabatistas com os “espiritualistas”, mas o fizeram equivocadamente. Os primeiros eram pacifistas e os segundos eram revolucionários.
        Os anabatistas existem até hoje. A Igreja Batista Renovada Moriá é anabatista. Nem todos os batistas são anabatistas. Há um amplo movimento batista procedente do calvinismo puritano inglês. Os anabatistas distinguem-se deles por não aceitarem qualquer aproximação entre a igreja (ou os crentes individuais) e a política partidária.

3 comentários:

  1. Olá Pr. Glauco, qual a fonte desse texto?

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  2. O texto foi escrito por mim, Pr Glauco. As informações são fruto de várias leituras ao longo de anos.

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